Maria custava a acreditar no que via na TV. Depois de tudo o que já tinha passado com Von Trapp e seus filhos, presenciar, mesmo que pela telinha, aquela cena, era uma lástima. A filha 6 estava de queixo caído, emudecida. O Capitão não se mostrava muito perplexo. Pelo jeito, já havia se acostumado à veia artística de seus rebentos. Se alguém podia chamar aquilo de arte. Na verdade, só o filho 2 mantinha alguma ligação à arte verdadeira e estava realmente fazendo sucesso, mas como era um cantor transformista, o Capitão, como ainda fazia questão de ser chamado, renegava sua paternidade até a morte.
- Na época, a falecida tinha um caso com o encanador – dizia ele com todo orgulho.
E Maria se segurava para não dizer que Smorfete, o nome artístico do filho 2, era a cara dele, tirando apenas os longos cabelos azuis e litros de silicone dos seios e do traseiro. Afinal, o Capitão sempre foi meio desbundado.
- Mas Maria, por que tanta surpresa? Ela sempre se saiu melhor na dança do que no canto. E lembre-se que a número 7 é a nossa filha. A nossa caçulinha.
- Nossa, não. Eu nunca tive filhos. São todos seus. Os sete.
- Seis. Já cansei de falar que o cabelos de anil não tem nada a ver comigo.
Maria suspirou fundo e mudou o rumo da conversa. Ela queria esquecer o que rolava na TV.
- Será que as números 3 e 5 vêm jantar?
- Acho que não. Parece que o show de hoje vai ser numa pizzaria.
- Desde quando telegrama animado pode ser classificado como show?
- Não deixa de ser, Maria. Afinal, elas se apresentam com uma banda, têm microfone e platéia.
- Sabe capitão... a primeira vez que eu vi a reação das pessoas quando elas saltaram daquela Kombi metidas numa banana inflável, com os músicos disfarçados de macacos, eu pensei que fosse uma pegadinha erótica.
- Por quê?
- As pessoas gritavam: “Olha a sacanagem! Isso é sacanagem das grossas!”.
O capitão imaginou a cena: as filhas tentando cantar parabéns e os adolescentes atirando sorvete e dizendo que elas ficavam melhor numa banana split.
- É... Maria... aquilo não acabou bem. Mas não tão mal quanto a filha 1, né?
- Bem feito. Quem mandou brigar na casa do BBB? Tava querendo ser expulsa mesmo.
- Mas a culpa não foi dela, coitadinha.
A filha 6 olhou surpresa para o pai, mas, como sempre, permaneceu calada.
- Coitadinha? Ela quebrou o nariz da outra lá!
- Quem mandou a sirigaita confundi-la com o irmão e gritar que ela era muito mais gorda e masculina pessoalmente? Agora todo mundo sabe que aquele traveco é da família.
- Pelo menos vão esquecer que o filho 4 resolveu atacar de cover do Latino e mostrou o bunda lê-lê dele pra todo o bairro na Kombi do Telegrama Animado.
De repente Maria ficou imaginando onde eles tinham errado com as crianças. Será que a troca dos nomes pelos números tinha causado algum trauma? Ou será que foi a releitura de Mudança de Hábito para o coral da Igreja? Aquela idéia, definitivamente, não tinha sido boa. Eles foram expulsos da congregação porque o padre achou a coreografia herege. Mas aquilo tinha sido fichinha se comparado ao que a filha 7, a caçula, estava fazendo. Devia ter desconfiado daquelas performaces com as garrafas quando ela dizia que só estava se preparando para um número de mágica.
- Mas o que tem demais, Maria – tinha perguntado o Capitão na época – se a menina quer participar do concurso da Loura do Tchan?
- Não é isso, criatura! Branca daquele jeito, ela quer ser a morena, a MORENA do tchan!
- Nada que um solzinho não resolva. Agora as morenas vão ver como é bom ser falsificada!
E Maria tinha dado graças a Deus pelo mau jeito nas costas que desclassificou a menina bem na hora do concurso. Mas pelo jeito aquela desorientada não tinha limites. Ela estava bem diante dos seus olhos, tendo a ousadia de participar da seleção para a Globeleza. Como ela arrumou aquela cor tizil e o que tornou o cabelo bombril, nunca iria descobrir. Era praticamente um Michael Jackon ao contrário. E o pior de tudo era o modelito.
- Não é possível! - gritou levantando do sofá - ela está usando a roupa de brincar!
- Aquela que você fez com minhas cortinas quando era apenas a babá?
- Sim!
A filha 6 olhava para Maria, para o pai e para a irmã na TV. Ela tinha transformado a roupa em umas faixas. Faixas bem pequenas. E estava realmente esquisita.
- Relaxa Maria. Daqui a pouco você acostuma. Eu mesmo detestei logo que vi as tais roupas, lembra?
De repente a muda deu um grito horrível e berrou apontando pra TV:
- A minha sombrinha rosa desaparecida! - eram as primeiras palavras dela em anos.
A Von Trapp dançarina tinha roubado a sombrinha da filha 6 que todos acharam que tinha sumido. Então, nesse momento, ela passou a misturar samba com algumas coreografias de Mary Popings. A última coisa que Maria pensou antes de desmaiar foi “e ainda dizem que a rebelde sou eu”.
- Na época, a falecida tinha um caso com o encanador – dizia ele com todo orgulho.
E Maria se segurava para não dizer que Smorfete, o nome artístico do filho 2, era a cara dele, tirando apenas os longos cabelos azuis e litros de silicone dos seios e do traseiro. Afinal, o Capitão sempre foi meio desbundado.
- Mas Maria, por que tanta surpresa? Ela sempre se saiu melhor na dança do que no canto. E lembre-se que a número 7 é a nossa filha. A nossa caçulinha.
- Nossa, não. Eu nunca tive filhos. São todos seus. Os sete.
- Seis. Já cansei de falar que o cabelos de anil não tem nada a ver comigo.
Maria suspirou fundo e mudou o rumo da conversa. Ela queria esquecer o que rolava na TV.
- Será que as números 3 e 5 vêm jantar?
- Acho que não. Parece que o show de hoje vai ser numa pizzaria.
- Desde quando telegrama animado pode ser classificado como show?
- Não deixa de ser, Maria. Afinal, elas se apresentam com uma banda, têm microfone e platéia.
- Sabe capitão... a primeira vez que eu vi a reação das pessoas quando elas saltaram daquela Kombi metidas numa banana inflável, com os músicos disfarçados de macacos, eu pensei que fosse uma pegadinha erótica.
- Por quê?
- As pessoas gritavam: “Olha a sacanagem! Isso é sacanagem das grossas!”.
O capitão imaginou a cena: as filhas tentando cantar parabéns e os adolescentes atirando sorvete e dizendo que elas ficavam melhor numa banana split.
- É... Maria... aquilo não acabou bem. Mas não tão mal quanto a filha 1, né?
- Bem feito. Quem mandou brigar na casa do BBB? Tava querendo ser expulsa mesmo.
- Mas a culpa não foi dela, coitadinha.
A filha 6 olhou surpresa para o pai, mas, como sempre, permaneceu calada.
- Coitadinha? Ela quebrou o nariz da outra lá!
- Quem mandou a sirigaita confundi-la com o irmão e gritar que ela era muito mais gorda e masculina pessoalmente? Agora todo mundo sabe que aquele traveco é da família.
- Pelo menos vão esquecer que o filho 4 resolveu atacar de cover do Latino e mostrou o bunda lê-lê dele pra todo o bairro na Kombi do Telegrama Animado.
De repente Maria ficou imaginando onde eles tinham errado com as crianças. Será que a troca dos nomes pelos números tinha causado algum trauma? Ou será que foi a releitura de Mudança de Hábito para o coral da Igreja? Aquela idéia, definitivamente, não tinha sido boa. Eles foram expulsos da congregação porque o padre achou a coreografia herege. Mas aquilo tinha sido fichinha se comparado ao que a filha 7, a caçula, estava fazendo. Devia ter desconfiado daquelas performaces com as garrafas quando ela dizia que só estava se preparando para um número de mágica.
- Mas o que tem demais, Maria – tinha perguntado o Capitão na época – se a menina quer participar do concurso da Loura do Tchan?
- Não é isso, criatura! Branca daquele jeito, ela quer ser a morena, a MORENA do tchan!
- Nada que um solzinho não resolva. Agora as morenas vão ver como é bom ser falsificada!
E Maria tinha dado graças a Deus pelo mau jeito nas costas que desclassificou a menina bem na hora do concurso. Mas pelo jeito aquela desorientada não tinha limites. Ela estava bem diante dos seus olhos, tendo a ousadia de participar da seleção para a Globeleza. Como ela arrumou aquela cor tizil e o que tornou o cabelo bombril, nunca iria descobrir. Era praticamente um Michael Jackon ao contrário. E o pior de tudo era o modelito.
- Não é possível! - gritou levantando do sofá - ela está usando a roupa de brincar!
- Aquela que você fez com minhas cortinas quando era apenas a babá?
- Sim!
A filha 6 olhava para Maria, para o pai e para a irmã na TV. Ela tinha transformado a roupa em umas faixas. Faixas bem pequenas. E estava realmente esquisita.
- Relaxa Maria. Daqui a pouco você acostuma. Eu mesmo detestei logo que vi as tais roupas, lembra?
De repente a muda deu um grito horrível e berrou apontando pra TV:
- A minha sombrinha rosa desaparecida! - eram as primeiras palavras dela em anos.
A Von Trapp dançarina tinha roubado a sombrinha da filha 6 que todos acharam que tinha sumido. Então, nesse momento, ela passou a misturar samba com algumas coreografias de Mary Popings. A última coisa que Maria pensou antes de desmaiar foi “e ainda dizem que a rebelde sou eu”.
Um comentário:
Na verdade eu comentei primeiro o debaixo, mas devido ao interesse... rs... resolvi deixar um aqui também. kkk
Beijo Anna, tá bem divertido...
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