segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Guerra dos Mundos & ET


A pequena Rachel estava no seu quarto lembrando dos maus bocados que tinha passado no mês anterior. Não conseguia acreditar que os ET's maus, tão feiosos e inteligentes, tinham morrido de morte morrida. "E ainda tem gente que torce o nariz para bactérias e outras coisinhas do gênero" – ela pensava. Depois desse episódio passava, no mínimo, três dias sem tomar banho, contando aí, sábados, domingos e feriados. Quando a mãe perguntou por que estava agindo como o Cascão, ela explicou:

- Mãe, se todos fossem assim, eles não teriam sobrevivido dois dias em contato com a gente - e decidiu parar de lavar as orelhas por tempo indeterminado.
- O que é isso!? Não criei filha minha pra virar menina bomba!

Depois que a mãe saiu reclamando que, se fosse assim, nenhum alienígena teria a ousadia de pisar em Paris, Rachel ouviu um barulho dentro do armário. Alarmada, pegou a folha de alface estragada que tinha escondido na gaveta para alguma emergência e, na ponta dos pés, se aproximou. Num movimento rápido, escancarou a porta e deu de cara com o ET do filme ET - O Extraterrestre. Rachel começou a berrar. Aquele gritinho insuportável que só uma garotinha do cinema consegue dar. O ET, com cara de "já vi esse filme antes" disse:

- De novo essa cena?

Rachel ficou tão apavorada que perdeu a voz.

- Pára com isso, você é tão cansativa.
- Que-quem é você?
- Como assim, quem sou eu? Tudo bem que fui embora há uns 25 anos, mas pensei que nunca fosse me esquecer. Eu nunca esqueci de você. Pelo menos não dos seus gritos.
- 25 anos? Mas parece que foi o mês passado!

ET esticou o longo pescoço e foi chegando mais perto dela. Mas antes que Rachel começasse a berrar novamente, perguntou:

- Cadê seu irmão? Ele sim, era meu chapa.
- Mudou pra casa do papai. Disse que essa esposa dele é demais. Meio pau mandando, mas bem jeitosinha.
- Mas isso é quase um incesto!
- No mínimo uma pouca vergonha.
- Esse filme é do Spielberg?
- É.
- É sobre ET' s?
- No caso de dúvida, tem um espelho logo ali.
- Você é a caçula?
- Por enquanto sim.
- E esse cabelo louro? É seu ou é pintado?
- Se continuar a ver ET's todo mês, vou precisar em breve.
- Você não é a Gertie, mais conhecida como Drew Barrymore?
- Meu nome é Rachel, mais conhecida como Dakota Fanning.
- Esse filme é mesmo do Spielberg?
- Um sucesso de bilheterias!
- Não tô entendendo... ET's, uma garotinha lourinha e histérica, direção do...
- Ahá! Agora eu reconheci você! Você é o ET, de ET, O Extraterrestre! É um ET bonzinho!

ET olhou com cara de tédio e deu um longo um bocejo.

- Como pude me esquecer do: "ET... fone... home..." - falou tremendo a voz.
- Esqueça isso, pirralha. Detesto lembrar da época que não sabia juntar três palavras.
- A ponta do seu dedo ainda fica luminosa?

Rachel corou quando ET esticou um dedo pra ela. E não foi o indicador.

- Por que o mau humor?

- O que você esperava? Depois de 25 anos, consigo um visto de turista para voltar à Terra, dar umas voltas de bike ao luar e tomar uns gorós no Dia das Bruxas e, depois de saculejar anos luz naquele disco voador caindo aos pedaços, eu chego aqui e encontro a bonita aí, com essa cara de interrogação e cheiro de quem não toma banho há uma semana.
- Ahh, cai fora. Você tá no filme errado. Na sua época eu nem era nascida, vovô.

ET começou a ficar sem jeito.

- Se eu fosse você, baixava a bola. Os ET's bonzinhos do cinema estão em decadência, sabia?
- Bonzinhos não, mas frouxos, sim. Onde já se viu. Depois te tanto trabalho, ter um fim daquele? Francamente!
- Você fala isso pra menosprezar seus conterrâneos, que chegaram aqui botando banca.
- Eu não tenho parentesco algum com essa espécie... tão... tão sensível - e saiu saltitando imitando passinhos de balé.
- Pode dizer o que quiser, mas MEU filme de ET's é muito melhor que o seu.
- Por quê? Vai dizer que seu irmão é mais legal que o irmão da Gertie?
- Não.
- Então...?
- Mas o meu pai, fofo, é o Tom Cruise.

ET abriu a boca pra protestar, mas diante dessa argumentação, achou melhor ficar calado. O Tom, decididamente, fazia um bocado de diferença.

Um comentário:

Unknown disse...

Ei Anna!
Muito legal os textos, vou voltar e ler mais. Mas putz, falar do Tom Cruise no final ficou a sua cara, rs
Beijão.